quarta-feira, 31 de março de 2010

Suíte Senzala

A realização deste documentário sobre o Tambor de Sopapo vem surpreendendo a quem está se envolvendo. Por um lado já imaginávamos - e nos propusemos a tal - que iríamos encontrar um sem número de histórias envolvendo a matriz negra da história do Rio Grande do Sul. Agora, para o que não estávamos preparados era encontrar e descobrir o que realmente estamos desvendando aos poucos. O Sopapo, instrumento lindo, mítico, carrega na sua genética não parte, mas a própria história do que aconteceu nesta região das Américas.
Pelotas hoje é uma cidade estagnada, com uma nuvem de energia latente que paira sobre as cabeças de quem vive ali, algo pulsante, vivo, obscuro. E o Sopapo vem tocando e registrando este caminhar há séculos, até parar e se esconder para retornar como parte do profano - do sagrado, do elemento espiritual que acompanhava os escravos, ao profano das festas de carnaval.
E Pelotas calou sua própria história.
Os negros não queriam contá-la, pois desejavam se esquecer e não perpetuar com lembranças período tão sombrio, por isso passaram apenas a bailar no toque do tambor, tão lindo, tão retumbante e ressoante, que se bate com as mãos tocando o couro do animal sacrificado para a consagração da carne.
Os brancos trataram de apagá-la pelos seus interesses de manutenção da ordem. Seu poder sobre os negros se mantinha, assim, intacto, mesmo sem a escravidão legalizada, sobre a nova ordem da escravidão social. Os brancos criaram seus heróis assassinos, um hino mentiroso e uma bandeira que se diz verde e amarela riscada pelo vermelho do sangue dos heróis farroupilhas, sem dizer que este sangue, este líquido sagrado derrubado a troco de nada nas terras gaúchas, é dos negros, dos escravos que encamparam a luta dos oligarcas das charqueadas pela sua própria liberdade, tendo sido traídos friamente pelas mãos daqueles que hoje dão nomes às ruas de todas as cidades do estado. Foram massacrados para que não voltassem à terra em onde trabalhavam para reinvindicar, enfim, seus direitos de homens livres.
Hoje, Pelotas purga e cala esta história.

Ouça mais uma música que será trilha do filme, na voz da cantora pelotense Giamarê, gravada em uma versão demo no estúdio da Casa Brasil Dunas (foto).









terça-feira, 30 de março de 2010

A cuíca de Mestre Batista roncando em faixa demo da trilha do filme sobre o Tambor de Sopapo

"Ventre Livre Odara" é como um mantra, no violão e voz, Marcelo Cougo, no Sopapo, Dilermando.
Vai estar na trilha do documentário.
Dá um play aí!











quarta-feira, 24 de março de 2010

Mestre Baptista grava trilha para o documentário sobre o Tambor de Sopapo


Mestre Baptista passou algumas horas conosco no estúdio da Casa Brasil Dunas, em Pelotas. O Mestre tocou sua cuíca na trilha "Suíte Senzala", composta por Marcelo Cougo especialmente para o documentário que está sendo filmado pelo Coletivo Catarse. Mestre Baptista foi acompanhado do percussionista Dilermando, do ODARA, grupo de dança de pelotas que utiliza o sopapo nas suas apresentações artísticas. Outra participação importante foi da cantora Giamare (em breve postaremos aqui a demo da gravação).

Nesta foto estão Mestre Baptista, Dilermando e Giamare, na Casa Brasil, aguardando para entrar no estúdio.

domingo, 21 de março de 2010

Ester Gutierrez fala da intenção de apagar a história dos escravos de Pelotas


No sábado, 20 de março, entrevistamos a professora do curso de Arquitetura da Universidade Federal de Pelotas, Ester Gutierrez, que pesquisou a história das charqueadas e publicou o livro Negros, charqueadas & olarias: um estudo sobre o espaço pelotense, fruto do seu mestrado em História. Ela nos contou que a destruição das senzalas e das estruturas de produção do charque, que deveriam ser patrimônio cultural preservado para contar uma parte obscura da história, foram sendo destruídas sem nenhum controle.

A tentativa de apagar a história dos escravos das charqueadas, segundo a professora, é por tratar-se de um tempo dramático de sofrimento para os escravos e para esconder uma realidade ainda presente de hoje na cidade.

A entrevista ocorreu na charqueada São João, em frente ao que sobrou da antiga senzala doméstica, ao lado da casa grande do charqueador, um dos únicos resquícios materiais da história dos negros escravizados em Pelotas.

sábado, 6 de março de 2010

Método prático e eficiente para captação de sopapo



Use dois microfones na captação de Sopapo: um eletrovoice (usado para bumbo de bateria, por exemplo) para captar freqüências graves na parte debaixo do instrumento e outro condensador na parte superior para captar a palma da mão. Deve-se colocar o instrumentista numa cadeira de pé, ótima medida para o resultado final pois a saída inferior de ar do instrumento precisa de espaço em relação ao chão para circulação das freqüências de graves e para que o microfone não seja atingido durante o toque do instrumentista (o que ocorre com facilidade se o instrumentista é posto na posição de pé dentro do estúdio, como se estivesse na avenida ao nível do chão ou num palco com os pés no assoalho). O uso da cadeira resolve isso assim como a possibilidade de o instrumentista tocar acavalado/sentado sobre o sopapo, boa alternativa também. Tome cuidado ainda com o ar condicionado pois vai interferir na afinação do instrumento, visto que a pele é de couro de cavalo ou gado, o que varia bastante com a variação de temperatura. Se precisar afinar às pressas pode ser feito com ferro de passar roupa junto com uma toalha ou secador de cabelo perto à parte superior do instrumento. A forma adequada é através de uma chave nº 13 para afinação conforme explicação do Mestre Batista, batendo com um martelo no aro superior sobre os parafusos grandes que ficam presos aos rebites de ferro e apertando os parafusos com a chave. Nesse caso, a ciência é o ouvido, a percepção da sonoridade que se quer tirar do instrumento. Batista sugere uma parelha de quatro sopapos, por exemplo, afinados cada um num tom: A (lá), C (dó), E (mi) e F (fá); montando assim o acorde de F7M. Talvez isso e certamente muito mais você vai ver com detalhes no documentário que está sendo produzido pelo Coletivo Catarse e Bataclã FC, com finalização e lançamento ainda em 2010: por exemplo, a ação mágica de um pedacinho de compensado com um martelo, todos juntos e sobretudo com um ouvido dotado de uma sabedoria ancestral constituem o peculiar kit de afinação de Mestre Batista. "O pulo do gato", diria o griô nascido no bairro Fragata em Pelotas e morador hoje do bairro Santa Terezinha, Rua São Jorge. O pulo do gato: um dentre muitos outros, digo eu.

Voltando às dicas de gravação: depois na mixagem pode-se juntar os dois canais (gravados separados com 2 microfones diferentes) ou até usar pistas separadas dependendo do que se quer no arranjo da canção (se for o caso). Microfone da parte superior para células rítmicas mais recheadas de semínimas com uso das bordas do instrumento ou microfone inferior para marcação (surdo de 1ª) no centro do sopapo. Na foto de Richard Serraria, Alessandro Brinco (mestre de bateria dos Imperadores do Samba) gravando terceiro disco da Bataclã FC na Tec Áudio, janeiro de 2010. As dicas acima são fruto de uma experiência em estúdio ao longo desses 11 anos de trabalho ininterrupto (desde 1999 quando estivemos no Colégio Pelotense nas primeiras oficinas de construção dos 40 sopapos para o Cabobu, em que trouxemos o primeiro exemplar de sopapo à Bataclã FC) com o instrumento secular das charqueadas adaptado ao contexto de uma banda de rock.

Por Richard Serraria, domingo 7 de março de 2010.

o meu coração é um tambor

Estamos avaliando nossa viagem e escolhendo fotos para a postar aqui. Além disso, estamos nos preparando para outra viagem.

Voltaremos em berve!!

quarta-feira, 3 de março de 2010

Entrevista com Seu Sid, um dos criadores do carnaval no Rio Grande do Sul

Foto: Sarah Brito/Fev.08

Dentro do documentário sobre o Tambor de Sopapo, entrevistamos o Seu Sid, um dos primeiros carnavalescos do Rio Grande do Sul. Seu Sid é músico, compositor e carnavalesco de uma das primeiras escolas de samba do estado, a General Vitorino e depois a Escola de Samba das Mariquitas, onde está até hoje.